Pág 10 Impulsão










Impulsão
(José Antonio Jacob)

Tenho em meu sangue o impulso bucaneiro;
Linhagem de uma raça viajante,
Encerro em mim um louco prisioneiro,
Filho medonho de um horror distante.

Carrego a dor da mãe de um marinheiro,
Fantasma vivo de um defunto errante,
Para fugir por um milênio inteiro
Tenho uma terra à frente e um mar adiante.

Mas, meu amor está tão perto, Amor!
Dentro de um sonho de ilusão deserta,
Fora do mundo que me causa dor.

Sempre que entoo essa aventura incerta,
Meu apagado olhar de sonhador
Reabre-se para a vida e me desperta!




Comentário
Professora Maria Granzoto da Silva


Introdução
Enunciado pela primeira vez pelo sábio grego Arquimedes, e pode ser explicado como:

Impulsão ou empuxo é hidrostática resultante exercida por um fluido líquido ou gás, em condições hidrostáticas sobre um corpo que nele esteja imerso. A impulsão existe graças à diferença de pressão hidrostática do corpo, visto que esta é proporcional à densidade,

( massa específica) do líquido, à aceleração da gravidade e à altura de profundidade.  

“Todo corpo mergulhado num fluido em repouso sofre, por parte do fluido, uma força vertical para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo."  

Diz a lenda contada por  Vitrúvio que o sábio grego Arquimedes o descobriu enquanto tomava banho, quando procurava responder a Hierão II, rei de Siracusa, se sua coroa era realmente de ouro puro.

Hierão, assim que se tornou rei de Siracura, mandou fazer uma coroa de ouro, para ofertar aos deuses imortais. Para isso, contratou um homem e ofereceu-lhe uma grande quantidade de ouro; na data prevista, o homem trouxe-lhe a coroa executada na perfeição, que tinha o mesmo peso do ouro fornecido.

Porém, correram rumores de que parte do ouro havia sido subtraído, e substituído por prata. Hierão ficou indignado com a fraude, e sem saber como o roubo poderia ser descoberto, passou o problema para Arquimedes.

Um dia, enquanto tomava banho na banheira, Arquimedes observou que, à medida que seu corpo mergulhava na banheira, a água transbordava, descobrindo o método para a solução do problema. De tão contente que estava saiu da banheira e foi para a rua gritando a famosa expressão que, em grego quer dizer ”descobri,achei, encontrei”:  

“ Eureka! Eureka!” 

Impulsão também pode ser entendida como estímulo, ímpeto. Ao cairmos em águas mais profundas, por exemplo, somos impulsionados à tona, independentemente da nossa vontade. 

Isso é poesia? Isso é a verdadeira poesia do poeta Jacob, advinda da sua vasta cultura! 


O primeiro quarteto 
Tenho em meu sangue o impulso bucaneiro;
Linhagem de uma raça viajante,
Encerro em mim um louco prisioneiro,
Filho medonho de um horror distante. 
O ímpeto do poeta, na tarefa de caçador (bucaneiro) do inexplorado, do selvagem, característica própria dos desbravadores, fervilha em suas veias, prisioneiro de si próprio, provocado por algo assustador num tempo já decorrido, mas não o abandona!


O segundo quarteto 
Carrego a dor da mãe de um marinheiro,
Fantasma vivo de um defunto errante,
Para fugir por um milênio inteiro
Tenho uma terra à frente e um mar adiante. 
No seu âmago, a dor lateja tal qual a perda ou a incerteza da mãe de um viajante que parte, mas não se sabe se haverá o retorno. Daí a bela antítese metafórica: “Fantasma vivo” e “defunto errante”. Por milênios somente desaparecem fantasmas e defuntos “ fabricados”pela nossa imaginação... E, para fugir, indiferente se torna o destino: por terra ou por água...  


O primeiro terceto 
Mas, meu amor está tão perto, Amor!
Dentro de um sonho de ilusão deserta,
Fora do mundo que me causa dor.
Chega a “Impulsão” e o poeta desperta, reconhecendo que o “Amor” verdadeiro, concreto e real que está dentro de si, também está à mercê do mundo exterior. Um mundo em que as pessoas são o que são e também o que não são. Porque o mundo é cruel! Ele desfaz, engana, abandona, rejeita, destrói. Então nos resta o sonhar. Para tanto, somos livres... ainda! 

O último terceto 
Sempre que entoo essa aventura incerta,
Meu apagado olhar de sonhador
Reabre-se para a vida e me desperta! 
A “Impulsão” o traz à realidade cruel da vida. Resta-lhe, pois, o sonhar. O sonho que, como dissera antes, ainda não nos foi tirado e nem proibido! É o retorno ao estado de como se está vivendo o agora, o hoje. Depois, num dia qualquer, o seu “impulso bucaneiro” poderá retornar com o sonho...
Belo poema! Levou-me a vários sonhos que um dia foram reais!








Poesia de Bolso - Ed. ArtCulturalBrasil/2011




POESIA DE BOLSO
ÍNDICE


Sonetos

7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
13/ Amor -Próprio Ferido
14/ A Dança dos Pares Perdidos
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
16/ Almas Primaverais
17/ Casinha de Boneca
18/ Nós Somos Para Sempre
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
27/ Roseiras Dolorosas
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
32/ História sem Final
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
36/ O Ano Bom do Bom Fantasma
37/ Domingo em Casa
38/39/ Elogio à dor do Desamor I e II
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
50/ O Vendedor de Bonequinhos
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
53/ Crepúsculo de uma Árvore
54/ Noite Fria
55/ Oração do Descrente
56/ Não Despertes Sonhos Nos Meus Dias
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
61/ A Mãe e a Roseira
62/ A Saudade Sempre Pede Mais
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
66/ A Aurora da Velhice
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
70/ Soneto para o Poeta Triste
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
82/ Oração do Dia dos Pais
83/ Ócio e Solidão
84/ A Prece do Capuchinho
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
89/ De Volta aos Quintais
90/ Amada Sombra que Persigo
91/ Eu Creio Sim!
92/ Coelhinho da Páscoa
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio

Quadra
95/ Veritas (Comentado)

Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
106/ O Fantasma que mora em meu Sofá
108/ Filhos de Minas





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