Cartas de Amor (comentado)




INFORMAÇÕES E RESERVAS


Prefácio
Maria Granzoto da Silva
Editora de Literatura
Arapongas - Paraná

Preâmbulo

Pois é! Isto de publicar um poema com alguma regularidade lá vai tendo as suas consequências.A maior parte delas boas, outras, menos que as primeiras, excelentes!

É sobre estes recém escritos sonetos, denominados "Cartas de Amor", que venho tentar escrever hoje.


QUIÇÁ UM PREÂMBULO


Na minha singela concepção, o poeta mineiro, José Antonio Jacob é deveras perfeito no seu gênero e não apenas para o seu tempo, mas para a eternidade. um verdadeiro humanista, um cidadão culto, preocupado com as pequenas-grandes “coisas” desta vida e deste nosso mundo tão carente de princípios e de valores bem como de verdadeiras e eficazes intervenções altruístas por quem de direito: “Amor-Proprio Ferido”. O que seria da poesia, em especial dos sonetos, sem poetas como José Antonio Jacob?

São composições que evocam um pouco do holismo da nossa vida e deste nosso conturbado mundo. Existe aqui reflexão filosófica, política, ética, religiosa, esotérica, social, estética… Ele não se limita apenas - como alguns - a por o dedo nas feridas e nas chagas sociais, tenta também cicatrizá-las o melhor possível, utilizando os mais preciosos - mas aparentemente esquecidos - remédios que os bons deuses inventaram para “cuidar” do Homem: o Amor, a Paz e a Justiça: “Prisioneiro”, “Renascer”.

É uma honra, um prazer e um privilégio, tecer aqui algumas breves considerações sobre este sonetário tão interessante, tão necessário para esta caótica fase da humanidade e tão perturbador também… É urgente ler, refletir e partilhar o que de bom esses dez sonetos encerram!

Nela se apresenta seus costumeiros e grandes momentos de inspiração, como intérprete dos sentimentos do povo, críticas e incompreensões.O sentimento do povo. Basta ler “Impulsão”, “Sonho de Papel”!

”O exercício da arte poética é sempre um esforço de auto-superação e, assim, o refinamento do estilo acaba trazendo a melhoria da alma. (Mário Quintana).

Há coisas e fatos que não são mais vistos a exemplo das bolinhas de sabão, entretenimento esquecido à margem da história: “Bolhas de Sabão”. O rompimento do silêncio. Hoje, falta silêncio que interrompa os ruídos! Bebedeira auricular só percebe a mesmice: “Fim de Jornada”, expressa claramente a questão. Afetividade (“Poodle”), relacionamentos, família, amor, valores sociais, a vida e suas transformações: “Os Afogados”, “Mudança”.

Traduz, através da palavra, o universo. Compreender um pouco de nós mesmos. Importa a introspecção. A alma e o sentir não falam, mas não calam! Basta saber ouvir!

A capacidade intelectiva e perceptiva de pessoas sensíveis, a exemplo de José Antonio Jacob, que não visa somente um dos lados da questão humana, mas expande seu universo de energias em vários segmentos, demonstra que o mundo precisa de pessoas que saibam reagir! De pessoas comprometidas com o sentimento seja ele em qualquer dimensão! E José Antonio Jacob, o grande sonetista brasileiro da atualidade, é o mais puro exemplo disso. É, sem qualquer dúvida, o MESTRE!


CARTAS DE AMOR
(José Antonio Jacob)
I

AMOR-PRÓPRIO FERIDO

Anos e anos eu sinto as invejosas
Pontadas de ciúmes no meu peito,
Ao recitar poesias primorosas
Com versos que eu queria tê-los feito.

Ah! Deus! Eu trago em mim as rancorosas
Mágoas, e uma coroa de despeito,
Das alheias estrofes luminosas
Que leio na penumbra do meu leito.

Mas, ainda tenho uma frase que alimenta
A vingança da dor que me restou...
Caio em delírio e a minha febre aumenta.

E o espectro de loquaz, que acho que sou,
Murmura um verso que a demência inventa
Para um amor que nunca me escutou.

II

PRISIONEIRO

Sou prisioneiro em plena liberdade,
Dá-me Carta de Guia com licença,
Para que seja enfim uma verdade
Essa prisão de amor minha sentença.

Amei-te a vida inteira, ó dor intensa!
O amor é uma tortura sem piedade,
É dor que fere e que deixa saudade,
Num calabouço de extensão imensa.

Ainda assim teu olhar não me reflete
Teu amor pelo qual o meu padece,
E essa ausência é o sudário que me veste.
É deste traje tosco que preciso
Para enfiar-me no chão que a mim merece
E ressurgir na luz do paraíso.

III

RENASCER

Sei que andas longe, meu amor, eu sei...
E enquanto outros passeiam vou à igreja,
Todo sonho que existe já sonhei,
E quando rezo a minha voz gagueja...

Anos se foram e eu não me arredei
Da nossa pobre casa sertaneja,
Ainda repousa em cima da bandeja
O que era nosso e nunca mais usei.

Não te demores mais minha querida
Já arrumei a casa e colhi flores
Para enfeitar de aroma a nossa vida.

Este jazigo não é o teu fim!
Recompõe a tua alma e tuas dores
E vem nascer de novo para mim!

IV

IMPULSÃO

Tenho em meu sangue o impulso bucaneiro,
Vestígio de uma raça viajante,
Encerro em mim um louco prisioneiro,
Filho medonho de um horror distante.

Carrego a dor da mãe de um marinheiro,
Fantasma vivo de um defunto errante,
Para fugir por um milênio inteiro
Tenho uma terra à frente e um mar adiante.

Mas, meu amor está tão perto, Amor!
Dentro de um sonho de ilusão deserta,
Fora do mundo que nos causa dor.

E quando entoo essa ventura incerta
Meu apagado olhar de sonhador
Reabre-se para a vida e me desperta!

V

SONHO DE PAPEL

Ainda ouço o som de água no rochedo,
- Retumba o oceano a nódoa da ambição!
Por isso meu amor que sinto medo
De ouvir no mar o som da solidão.

Velhos pesqueiros vão à lentidão,
Lá no horizonte o empós cria um segredo...
Estes barquinhos são de papelão
E o mar é um grande espelho de brinquedo...

Eu amo a vida, e quão pequeno sou,
Mas lanço um sonho nesta imensidão
E nele, de alma pendurada, vou...

Suspenso em minha pipa de papel,
Que vai transpondo nuvens de algodão,
Para meu sonho aterrissar no céu!

VI

BOLHAS DE SABÃO

Diverte-se na rua a meninada...
- A nossa vida é um raio de ilusão!
O nada existe e tudo vem do nada,
Sem peso ou forma, e sem composição.

Mas um miudinho só - de pé no chão -
Sentado na pontinha da calçada,
Esparge o céu que cobre a criançada
Com nuvens de bolinhas de sabão.

E o menino acredita em outras vidas
Expostas nas pupilas coloridas
Dos seus olhinhos puros de esperança...

E o meu olhar, molhado de emoção,
Também avista o que enxerga esta criança
Nestas pequenas bolhas de sabão!

VII

FIM DE JORNADA

Enquanto minha pena versifica
Versos de amor em minha caderneta
Vejo passar o tempo na ampulheta,
- Mas na ampulheta o tempo sempre fica!

Tanta saudade sua não se explica...
Desenho um coração com a caneta
E dentro dele um nome clarifica...
Arranco a folha e a guardo na gaveta.

Finda a jornada vou ao bar ao lado,
Para esquecer o amor da minha vida
Tranquei lá no escritório o nome amado...

E, ainda, cansado dessa solidão,
Eu peço uma caneta e uma bebida
E escrevo o nome Dela no balcão.

VIII

POODLE

Como posso dormir até mais tarde?
Eu perco sono, mas ganho carinho,
Carícias infantis cheias de alarde
E sinto no meu rosto o seu focinho.

Abro a janela e o sol clareia e me arde,
De um salto me levanto e me encaminho,
- Querida, o papai é tão covarde?
- Por que não me permite andar sozinho?

Vida da minha vida, em mim se afilha
E abana seu rabinho de debrum,
Sente ciúmes de mim... Que maravilha!

Comigo vai à mesa, ao desjejum,
Tiro biscoitos frescos da vasilha
E os dou em sua boca, um após um.

IX

OS AFOGADOS

O mar sacode na água a lua cheia,
Ouço nas ondas vozes afogadas,
São pescadores, filhos dessa aldeia,
Que nunca mais voltaram das pescadas.

Lá na distância o barco é um grão de areia,
E o mar a tremular em marejadas,
Pulsa, ribomba, estronda e corcoveia,
Depois engole as almas soçobradas.

Vão-se os milênios carregando os anos
E esses fantasmas clamam compaixão
No abisso misterioso dos oceanos.

E antes que o plenilúnio na água caia
Comovo-me, lembrando uma oração,
E vou rezando versos pela praia.

X

MUDANÇA

Na minha rua deu-se uma mudança,
Tudo se foi à sorte indefinida,
Mudaram-se os jardins e a vizinhança,
Os muros e as janelas, e a avenida.

O tempo se renova enquanto avança,
Que pena o tempo ter data vencida...
Com ele só não finda essa lembrança
Da infância que ficou em nossa vida.

A gente esquece coisas tão reais:
A bolinha de gude, o pique, a bola,
E amigos que não vimos nunca mais...

O bonde do Infantil vindo da escola,
Os filhos dando abraços nos seus pais
E à noite um som alegre na vitrola.



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Breve na sua biblioteca

POESIA DE BOLSO

Antologia poética de José Antonio Jacob





O Livro
Índice do Poesia de Bolso

Páginas


Sonetos

7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
19/ Sonhando (Comentado)
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
30/ O Palhaço (Comentado)
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
48/ O Vira-lata (Comentado)
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
93 Restou uma Poesia

Quadra
95/ Veritas (Comentado)

Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)


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4 comentários:

  1. Passando por aqui, li poemas de cartas de amor ...lindos !!!

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  2. Parabéns, poeta José Antonio Jacob, pelo Dia Nacional da Poesia, cuja data hoje é comemorada em homenagem ao grande poeta social, Castro Alves! A você, ícone dos poetas contemporaneos, o meu abraço e a minha eterna admiração!

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  3. Estimada professora Maria Granzoto

    Agradeço a lembrança e retribuo com alegria e emoção, pois que sem´sabedoria poética dos seus comentários o que seria dos meus pequenos versos?

    Com profunda admiração
    José Antonio Jacob

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  4. Amei suas Cartas de Amor
    Parabéns sempre
    Abraços da fã
    Irani Gennaro.

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