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TRAILER II

Fim de Jornada
(José Antonio Jacob)

Enquanto minha pena versifica,
Versos de amor em minha caderneta
Vejo passar o tempo na ampulheta,
Mas na ampulheta o tempo sempre fica.

Tanta saudade sua não se explica...
Desenho um coração com a caneta
E dentro dele um nome clarifica...
Arranco a folha e a guardo na gaveta.

Finda a jornada vou ao bar ao lado,
Para esquecer o amor da minha vida
Tranquei lá no escritório o nome amado.

E, ainda, cansado dessa solidão,
Eu peço uma caneta e uma bebida
E escrevo o nome dela no balcão.


Sonhando...
(José Antonio Jacob)

Para viver à luz dos devaneios,
Neste pequeno teatro do colchão,
Deixo um vazio nos meus olhos cheios
Da tua ausência em minha solidão.

Dizpo-te as flores que te ornam os seios
E os cubro com soluços de paixão
E este meu sonho me permite meios
Para encantar de amor teu coração.

Somos memórias curtas deste agora,
Pois que nosso futuro é o outro dia
Que morre de repente em plena aurora.

Sonho em teus olhos de deserto e pó...
Por isso durmo e acordo na utopia
Que somos duas vidas numa só.

Varal de Luzes
(José Antonio Jacob)

Vem! Dá-me a mão princesa, o mundo é belo!
Deixa um bilhete simples sobre a estante,
Descalça os teus pezinhos do chinelo
E vamos juntos caminhar adiante!...

Se o azul combina o tom com o amarelo
E o arco-íris se inclina em céu distante,
Por que tu vives dentro de um castelo
Se a vida te ilumina a todo instante?

Ajunta os teus sonhos cor de mel
Nas rimas de um soneto bem escrito
E exprime teus encantos no papel!

Colore neste dia um tom bonito
Que a noite põe estrelas no teu céu
Como um varal de luzes no infinito!


Mãos nos Bolsos
 (José Antonio Jacob)

Noites e noites passo sem dormir,
Ao meu lado a esperança não desperta,
Quando amanhece eu não sei para aonde ir,
Abro a janela e a rua está deserta...

Destranco a porta e a deixo ao dia, aberta,
O sol lá fora se recusa a vir,
O que há em mim de alegre quer sair
E o que me deixa triste não liberta.

Quero ir embora, adeus! Saio a tossir,
O vento esbarra em mim sem eu sentir
E a rua espicha-se no meu caminho.

Com as mãos nos meus bolsos sigo adiante,
Nesta cidade grande ando distante,
Depois volto mais triste e mais sozinho...


O Vendedor de Bonequinhos
(José Antonio Jacob)

Todo dia nos postes da calçada
Eu amarrava um fio, e o estendia,
E nele pendurava uma braçada
De bonequinhos feios que eu vendia.

Eram polichinelos que eu fazia
De trança de algodão, à mão desfiada...
No pano das feições não conseguia
Puxar-lhes traços de melhor fachada.

Ao desbotar o azul no fim do dia,
Quando eu os desatava dos alinhos
Desse varal de cordeação brilhante,

Esses desengonçados bonequinhos
Desciam-me nas mãos com alegria
E me davam abraços de barbante!


Sublimação
(José Antonio Jacob)

Segue distante o pensamento humano,
No encalço das idéias fugitivas,
Sempre buscando achar num outro plano
A lógica das coisas evasivas.

Passeante dessas fugas pensativas
O homem, hora após hora, ano após ano,
Estima ao seu revés a mágoa e o engano
E ao seu prestígio as sinas positivas.

Mas só diria o que aprendeu da Vida
Se tivesse a certeza definida
Daquilo que a existência não lhe exprime...

E apenas numa frase resumisse
A idéia exata e a essência mais sublime
De tudo o que pensou e nunca disse!


Repouso no Sítio
(José Antonio Jacob)

Longas horas no sítio de repouso,
Tendo a paz do pomar por companhia,
A passar o meu dia preguiçoso,
Sentindo um não sei quê de nostalgia.

Não escuto o gemido lamentoso
Da Voz que me persegue noite e dia,
Apenas ouço um pio doloroso,
Que é de alguma ave doente em agonia.

E sinto-me abatido e descontente,
Se bem que esteja à toa em meu caminho,
Passeando calmamente junto às flores.

Mas tenho medo de seguir em frente...
Será que poderei andar sozinho,
O que será de mim sem meus temores?


Além da Porta
(José Antonio Jacob)

E novamente a rua está deserta!
Mais uma vez cheguei tarde à janela
E o que passou de bom em frente dela
Não viu que a minha porta estava aberta.

Eu nunca apareci na hora certa...
Mas sei que lá adiante a vida é bela
E que sempre há uma nova descoberta
Fora do meu pijama de flanela.

A Voz que me acompanha e que me fala,
Dessa vez não me assusta, só conforta:
“Ânimo Antonio, deixa essa casa! - Anda!”

Eu saio... do meu quarto para a sala
E decidido vou além da porta,
Mas volto quando piso na varanda.


Figurinhas
(José Antonio Jacob)

Por onde eu ando levo a mágoa estranha,
De uma culpa, uma dor que me desola,
Essa pequena voz que me acompanha
É de uma criança que me pede esmola.

Assim como o vinil que na vitrola
Engasga na canção que a agulha arranha,
Meu velho coração no peito embola
Na mesma frase que o incomoda e assanha.

E para distrair-me, da minha rede,
Enquanto me descanso do verão,
Rabisco caretinhas na parede...

Risonhas figurinhas de carvão
Agradecidas por não terem sede,
Nem de precisarem pedir-me pão.


Carretéis
(José Antonio Jacob)

Nem bem o sol abria os seus bordados
De luminosas cores, entre as bigas
De carretéis e fósforos usados,
Eu já premeditava as minhas brigas.

Para vencer armadas inimigas,
Eu perfilava - de olhos encantados -
Um exército imenso de soldados
Numa fileira longa de formigas.

O que passou da vida eu não senti,
O tempo inteiro eu fui ficando ali
Nos digitais alegres do passado.

Esta alma calma, que ainda vive em mim,
É aquele menininho sossegado
Que brinca de guerreiro no jardim.


De Volta aos Quintais
(José Antonio Jacob)

Mesmo corrido o tempo guardo apreço
Aos meus passos cansados, desiguais,
Que sempre me levaram sem tropeço
Ao refúgio da infância nos quintais.

Nada mudou! De longe reconheço
A confraria alegre dos pardais
E as mesmas roupas claras nos varais:
- Nunca tirei dali meu endereço!

Apenas me ausentei de casa cedo,
Qual criança que se afasta do folguedo
Para mais tarde o aconchegar a si.

Eu sou esse menino arrependido
E quero o meu brinquedo envelhecido
Para brincar no tempo que perdi!


Revelação
(José Antonio Jacob)

Sabeis nada de mim, e sabeis nada,
Pois que venho regresso de outra lida.
Nada me perguntastes na chegada
E nada vos direi na despedida.

Se volto de uma alegre caminhada
Ou se deixei tristeza na partida.
Pode ser que ao final dessa jornada
Nada ainda sabereis da minha vida.

Não entendeis do céu que nos assiste?
Trago nos olhos grandes o olhar triste,
Tais quais olhos da noite arregalados.

Espiai essas estrelas tão banais:
- Tantos mundos distantes revelados,
Mas que aos olhos dos homens são iguais!


Domingo em Casa
(José Antonio Jacob)

Todo domingo é assim: hora comprida...
Contraio os músclos (que horrível tique)
Para arrumar a casa sacudida
Antes que a confusão se multiplique.

Como se fosse criança extrovertida
Rodo a mobília pela sala a pique,
Depois desfaço e faço outra investida
E acabo na cozinha em piquenique.

Todo domingo é assim: o nada é lento...
(O nada é a preguiça que nos dá)
E nessa hora pulo no sofá...

Como é saudável adormecer, sonhar...
Quando mais tarde acordo sonolento
Eu reponho a mobília no lugar.


Solidão
(José Antonio Jacob)

Meu céu cinzento é um teto em minha sala,
E nele eu vejo os dias da poltrona,
Se eu quero dar um passo uso a bengala,
Tenho uma artrite que não me abandona.

Passo nas juntas óleo de mamona,
Pois quando dobro o joelho a perna estala,
Na minha casa nada mais funciona
E eu ligo o rádio, mas ele não fala...

Chego à janela e fico a olhar auroras,
Falo sozinho o dia inteiro à toa,
Eu não tenho aonde ir! Não tenho mais aonde!

Para escutar a voz de outra pessoa
Eu saio às ruas perguntando as horas,
Mas quem passa por mim não me responde.




TRAILER 1
TRAILER 3





O Livro

Índice do Poesia de Bolso



Páginas



Sonetos

7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
13/ Amor -Próprio Ferido
14/ A Dança dos Pares Perdidos
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
16/ Almas Primaverais
17/ Casinha de Boneca
18/ Nós Somos Para Sempre
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
27/ Roseiras Dolorosas
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
32/ História sem Final
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
36/ O Ano Bom do Bom Fantasma
37/ Domingo em Casa
38/39/ Elogio à dor do Desamor I e II
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
50/ O Vendedor de Bonequinhos
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
53/ Crepúsculo de uma Árvore
54/ Noite Fria
55/ Oração do Descrente
56/ Não Despertes Sonhos Nos Meus Dias
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
61/ A Mãe e a Roseira
62/ A Saudade Sempre Pede Mais
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
66/ A Aurora da Velhice
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
70/ Soneto para o Poeta Triste
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
82/ Oração do Dia dos Pais
83/ Ócio e Solidão
84/ A Prece do Capuchinho
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
89/ De Volta aos Quintais
90/ Amada Sombra que Persigo
91/ Eu Creio Sim!
92/ Coelhinho da Páscoa
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio

Quadra
95/ Veritas (Comentado)

Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
106/ O Fantasma que mora em meu Sofá
108/ Filhos de Minas









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(Acróstico Poético)
(Apresentação de Maria Granzoto da Silva)

Resposta ao Passado
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Mémória de Bibelô
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Além da Porta
(Vídeo de Dorival Campanelle)

Noite no Bar

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Trailer 1

Poesia de Bolso - Ed. ArtCulturalBrasil/2011




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