Pág. 12 Fim de Jornada







FIM DE JORNADA
(José Antonio Jacob)


Enquanto minha pena versifica
Versos de amor em minha caderneta
Vejo passar o tempo na ampulheta,
- Mas na ampulheta o tempo sempre fica!

Tanta saudade sua não se explica...
Desenho um coração com a caneta
E dentro dele um nome clarifica...
Arranco a folha e a guardo na gaveta.

Finda a jornada vou ao bar ao lado,
Para esquecer o amor da minha vida
Tranquei lá no escritório o nome amado...

E, ainda, cansado dessa solidão,
Eu peço uma caneta e uma bebida
E escrevo o nome dela no balcão.





COMENTÁRIO
Professora Maria Granzoto da Silva
Arapongas - Paraná
granzoto@globo.com



Introdução

Todos e tudo no universo têm um início, um meio e um fim. Ou não. Nada é “infinito, enquanto dure.”
Augusto Branco disse certa vez: “Não existe passado, não existe futuro, não existem perguntas, não existem  respostas. A única coisa que existe é o aqui e o agora!”

                                                                          O título

Helena Kolody escreveu :  “tão longa a jornada! /e a gente cai, de repente, / no abismo do nada /” Para outros, a jornada é tão curta! Certo é que tudo tem um início. E que a jornada de uma pessoa jamais será idêntica a de outra. “Fim de Jornada” da vida, de certo período de tempo, de uma suposta viagem... Aqui cabe a cada leitor estabelecer a jornada e a sua duração!

O PRIMEIRO QUARTETO

Enquanto minha pena versifica
Versos de amor em minha caderneta
Vejo passar o tempo na ampulheta,
- Mas na ampulheta o tempo sempre fica!

No primeiro verso, a conjunção “enquanto” já manifesta a ideia de tempo e ligada a “pena” produz um visual inimaginável que nos conduz a várias interpretações. Seria pena, objeto com que se escreve ou “pena”, dó de mim mesmo e que provoca sentimentos variados em relação ao amor? Passa o tempo, mas na realidade, o sentimento não passa. Nota-se ainda a presença insistente da ampulheta, um dos meios mais antigos de medição de tempo. “... - Mas na ampulheta o tempo sempre fica!”

O nome vem do romano Ampulla (Redoma). É constituída por duas âmbulas (recipientes cônicos ou cilíndricos) transparentes que comunicam entre si por um pequeno orifício que deixa passar uma quantidade determinada de areia de uma para a outra - o tempo decorrido a passar de uma âmbula para a outra corresponde, em princípio, sempre ao mesmo período de tempo. Uma vez que a areia tenha passado na sua totalidade para a âmbula de baixo, o dispositivo pode ser invertido, para começar a contagem outra vez.
Os fatores que afetam a quantidade de tempo que a ampulheta “mede” incluem: o volume de areia, o tamanho da ampulheta, o tamanho e o ângulo das âmbulas, a largura da passagem e o tipo e qualidade da areia.

Origem da ampulheta:

As ampulhetas terão sido inventadas em Alexandria, por volta da metade do século III, onde eram por vezes transportadas de modo semelhante à atual utilização do relógio de pulso. Especulava-se que estaria ainda em uso no século XI, onde teria complementado a bússola magnética, para facilitar a navegação.

Simbologia da ampulheta:

Não como a maioria dos outros métodos de medição de tempo, a ampulheta representa concretamente o presente como estando entre o passado e o futuro, tornando-se assim um símbolo do próprio tempo. A ampulheta, por vezes adicionada às asas metafóricas, é frequentemente descrita como um símbolo de que a existência humana é fugaz, e que as “areias do tempo” se irão esgotar, para cada vida humana. Foi utilizada, portanto, sobre bandeiras piratas, para infligir medo nos corações das suas vítimas. Na Inglaterra, por vezes ampulhetas eram colocadas em caixões e “abençoaram” lápides durante séculos. Mas, nesta ampulheta do soneto, (ao contrário da idéia comum de fugacidade das horas), o tempo sempre fica. E com este tempo ficam expostos, qual numa vitrina, todos os “versos de amor” versificados na caderneta do poeta. 


O SEGUNDO QUARTETO

Tanta saudade sua não se explica...
Desenho um coração com a caneta
E dentro dele um nome clarifica...
Arranco a folha e a guardo na gaveta.

O adjetivo “tanto” que poderia ser um adjunto adverbial, indica o quão profunda e grande a saudade, que nem explicação possui!  Por que desenhar um coração? Quando sentimos  fortes emoções nosso coração bate mais forte manifestando assim , saudade, alegria ou tristeza, por isso ele é o dos símbolos do amor., em qualquer circunstância. Um nome dentro do coração “ad eternum”. Mas a folha em que o coração foi desenhado e o nome ali escrito... Ah! Esse eu posso arrancar e colocar na gaveta. Mas tão somente o da folha!

O PRIMEIRO TERCETO

Finda a jornada vou ao bar ao lado,
Para esquecer o amor da minha vida
Tranquei lá no escritório o nome amado...

Na verdade, a jornada não terminou. A afirmativa é um engodo. Apenas apelo para a ilusão passageira de que com o nome da amada trancado em qualquer canto, acabará com o meu sofrimento. E o bar? Um espaço que abriga pessoas com os mais variados sentimentos, numa tentativa de não mais sentir, de se apagar, de cair no esquecimento. Não se tem controle sobre o sentir. Não é numa gaveta que se desfaz um sentimento. Lindo!

O ÚLTIMO TERCETO

E, ainda, cansado dessa solidão,
Eu peço uma caneta e uma bebida
E escrevo o nome dela no balcão.

O poeta finaliza com um terceto que deixa claro o predomínio do psicologismo, isto é, a mesma preocupação com as questões íntimas, conscientes ou não, haja vista a permanência em solidão, consciente ou não, pois retorna ao bar e ali escreve o nome da amada. Também pode expressar as contradições do ser humano, porque a jornada não chegou ao fim, visto que insiste nas relembranças da amada.  É a mudez forte da verdade, como diria Drummond. Chama à atenção a palavra “Jornada”, porque termina em nada. Nada adiantou: desenho do coração, gaveta trancada, nome da amada. O Poeta continua só. Sua jornada não terá fim!


Parabéns, poeta Jacob! Os sentimentos que lhe afloram do coração são os nossos também! Mas, quase sempre, não os percebemos!


Poesia de Bolso - Ed. ArtCulturalBrasil/2011




POESIA DE BOLSO
ÍNDICE


Sonetos

7/ Desenho (Comentado)
8/ Sonho de Papel (Comentado)
9/ Florzinha (Comentado)
10/ Impulsão (Comentado)
11/ Bolhas de Sabão (Comentado)
12/ Fim de Jornada (Comentado)
13/ Amor -Próprio Ferido
14/ A Dança dos Pares Perdidos
15/ Afronta Impiedosa (Comentado)
16/ Almas Primaverais
17/ Casinha de Boneca
18/ Nós Somos Para Sempre
19/ Sonhando (Comentado)
20/ Faltas e Demoras
21/ Velho Órfão
22/ Silêncio em Casa
23/ Quanto Tempo nos Resta? (Comentado)
24/ Enigma
25/ Despercebimento
26/ Porta-retratos
27/ Roseiras Dolorosas
28/ Sonho Quebrado
29/ O Espelho
30/ O Palhaço (Comentado)
31/ Varal de Luzes
32/ História sem Final
33/ O Beijo de Jesus (Comentado)
34/ Musa do Ano Novo
35/ Natal dos meus Sonhos (Comentado)
36/ O Ano Bom do Bom Fantasma
37/ Domingo em Casa
38/39/ Elogio à dor do Desamor I e II
40/ Almas sem Flores
41/ Crença
42/ Além da Porta
43/ Alminha
44/ Carretéis
45/ Os Afogados
46/ Jardim sem Flores (Comentado)
47/ Mudança
48/ O Vira-lata (Comentado)
49/ Revelação
50/ O Vendedor de Bonequinhos
51/ Repouso no Sítio (Comentado)
52/ Tédio
53/ Crepúsculo de uma Árvore
54/ Noite Fria
55/ Oração do Descrente
56/ Não Despertes Sonhos Nos Meus Dias
57/ Falsidade
58/ Renascer
59/ Poodle
60/ Prisioneiro
61/ A Mãe e a Roseira
62/ A Saudade Sempre Pede Mais
63/ Sublimação (Comentado)
64/ Solidão (Comentado)
65/ Esperança Morta
66/ A Aurora da Velhice
67/ Mãos nos Bolsos
68/ Figurinhas
69/ História Boa
70/ Soneto para o Poeta Triste
71/ Minha Senhora
72/ Soneto de Natal
73/ O Pai e a Terra
74/ Minha Mãezinha
75/ Brinquedo
76/ Alegoria
77/ Almas Raras
78/ Angústia
79/ As Formigas
80/ Velhice Feliz
81/ Na Poltrona
82/ Oração do Dia dos Pais
83/ Ócio e Solidão
84/ A Prece do Capuchinho
85/ Último Delírio
86/ Canção do Rio
87/ O Verso Único
88/ Páscoa
89/ De Volta aos Quintais
90/ Amada Sombra que Persigo
91/ Eu Creio Sim!
92/ Coelhinho da Páscoa
93 Restou uma Poesia
94/ Meu Presépio

Quadra
95/ Veritas (Comentado)

Sextilhas
96/ Delírios de Maio (Comentado)
100/101/ Passeio na Cidade
102/ Natal na Rua da Miséria (Comentado)
104/105/ Uma Temporada na Roça
106/ O Fantasma que mora em meu Sofá
108/ Filhos de Minas







 
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Além da Porta
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Noite no Bar


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